Amanda Cieglinski
Repórter da Agência Brasil
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Movimentos sociais e parlamentares comemoram a aprovação na Câmara do Plano Nacional de Educação (PNE) que incluiu uma meta de investimento público de 10% do Produto Interno Bruto (PIB)
no setor, a ser atingida no prazo de dez anos. A conquista, entretanto,
não significa um aumento imediato da verba para a educação. Os
municípios, estados e a União terão que buscar novas fontes de recursos e
rever a contribuição de cada um dos entes federados nesta conta para
que a meta saia do papel.
Os dados mais recentes apontam que o país investe 5,1% do PIB em
educação, segundo levantamento do Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais (Inep). A parcela de contribuição de cada um dos
estados e do Distrito Federal é bem diferente: em 2009, o governo
federal foi o responsável por 20% do investimento público em educação e
os estados e os municípios por cerca de 30% cada.
Um dos caminhos para aumentar os investimentos na área é repartir
melhor essa conta. O professor da Universidade Católica de Brasília,
Cândido Gomes, acredita que a contribuição do governo federal na
educação básica poderia ser maior. Hoje boa parte dos recursos que a
União aplica é no ensino superior para custear as universidades
federais. “Teremos que repactuar tudo. Essa é uma conta muito pesada
para os municípios. A relação já melhorou, mas ainda falta caminhar
muito. E os municípios e estados têm a obrigação de aplicar esses
recursos [que são repassados pela União], e isso precisa ser cobrado”,
disse.
O próprio texto do PNE aprovado ontem (26) prevê que no prazo de dois
anos um novo projeto de lei complementar deverá estabelecer “normas de
cooperação entre a União, os estados, o Distrito Federal e os
municípios” para garantir “equilíbrio na repartição das
responsabilidades e dos recursos”.
Além de repactuar o investimento, também será necessário buscar novas
fontes de recursos. A expectativa do próprio ministro da Educação,
Aloizio Mercadante, é que os recursos da exploração de petróleo e gás da
camada pré-sal possam ser aplicados em educação e assim aumentem o
volume de dinheiro para atingir a meta dos 10%. A determinação para que
os recursos obtidos com a exploração sejam investidos nas redes de
ensino também consta no PNE.
“Agora que existe a meta dos 10% do PIB, será necessário pensar de onde
esse dinheiro vai sair. Existem muitas expectativas em relação ao
pré-sal, mas esse é um dinheiro que ainda vamos demorar para ver”,
avalia Gomes.
Para o especialista em financiamento em educação, além de garantir mais
recursos, é necessário melhorar a eficiência dos gastos. Atualmente o
país gasta muito dinheiro, por exemplo, com o problema da repetência e
da evasão escolar. Gomes avalia que um ótimo investimento seria aplicar
mais recursos na educação infantil que garante um melhor desenvolvimento
da criança e por consequência aumenta as chances de sucesso de sua
trajetória escolar.
“Realmente o Brasil precisa de um aumento dos recursos financeiros para
educação, mas nada disso valerá se nós não melhorarmos o aproveitamento
desse dinheiro. A criança [público da educação infantil] é o elo
perdido. Mas, no Brasil, é como se nós só nos preocupássemos com a
árvore depois que ela está torta”, disse.
O PNE estabelece 20 metas educacionais que o país deverá atingir no
prazo de dez anos. Além do aumento no investimento em educação pública, o
plano prevê a ampliação das vagas em creches, a equiparação da
remuneração dos professores com a de outros profissionais com formação
superior, a erradicação do analfabetismo e a oferta do ensino em tempo
integral em pelo menos 50% das escolas públicas. Todos os objetivos
terão que ser alcançados no prazo de dez anos, a contar da sanção
presidencial. A proposta aprovada pela Câmara segue agora para avaliação
e votação no Senado Federal.
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