Entre eles, estão a ocorrência de depressões anteriores, qualidade da relação com o parceiro, o apoio social e os anos de escolaridade. “Os fatores apontados devem ser interpretados dentro de um contexto mais amplo e considerados em suas interações. Contudo, as mulheres atendidas no hospital público apresentaram maior número de fatores de risco”, esclareceram as coordenadoras do projeto Emma Otta, Vera Sílvia Bussab, Maria de Lima Salum e Morais, em entrevista à Agência Brasil. Nas duas amostras, os recém-nascidos apresentaram condições de saúde semelhantes. A idade da mãe, a escolaridade, o número de visitas pré-natal e de cesarianas foram maiores entre as mães do hospital privado.
As mães e os filhos foram acompanhados nos três anos após o nascimento com objetivo de identificar as interferências da depressão no desenvolvimento cognitivo das crianças. A pesquisa mostra que, embora as mulheres com depressão pós-parto tenham se considerado piores mães, isso não interferiu significativamente na interação deles. “Elas relatavam que o bebê dava mais trabalho, que tinham mais dificuldades nos cuidados com a criança, que eram mais impacientes e que dedicavam menos tempo ao filho”, explicam as pesquisadoras.
Já no quarto mês de vida, observadores externos perceberam que as mães com sinais de depressão pós-parto conversavam menos com os bebês, especialmente quando já tinham outros filhos, e também que os filhos procuravam menos o olhar materno. Nessa fase, no entanto, não houve diferença significativa, contudo, em outros comportamentos interacionais nem motores.
Aos 12 meses, por outro lado, os filhos de mães depressivas apresentaram pior desempenho em tarefas de desenvolvimento motor, mas mostraram melhor desenvolvimento da linguagem oral. Para as pesquisadoras, isso pode ser justificado pela maior necessidade de as crianças exibirem comportamentos que chamem a atenção de outras pessoas. Por meio da análise de vídeos, também foi possível perceber nessa fase que as crianças exploravam menos o ambiente, manipulavam menos os brinquedos e apresentavam mais movimentos repetitivos na interação com uma pessoa estranha.
Foram feitas análises ainda aos 24 meses e aos 36 meses. Com 2 anos, foram avaliados a empatia e os comportamentos sociais do bebê. Em uma situação experimental, o pesquisador simulou estar desapontado e a maior parte das crianças, independentemente da condição materna, tentou ajudá-lo. Aos 3 anos, foram mais frequentes os casos em que filhos de mulheres depressivas ignoraram as solicitações da mãe.
O estudo mostra que alguns fatores atenuam a influência da depressão materna sobre o desenvolvimento da criança. Em relação às mães, entre outros fatores, são importantes o apoio do parceiro e da família. Por parte da criança, “fatores como temperamento, resistência ao estresse, tempo com a mãe, entre outros, podem ser responsáveis pela variação comportamental”.
As pesquisadoras destacam ainda que medidas simples podem ser úteis para diminuir o impacto do transtorno. Uma delas seria adotar uma ficha de atendimento das gestantes com informação sobre ocorrência de episódios anteriores de depressão. “Esse foi um importante fator de risco na nossa amostra”, justificam.
Outra estratégia é o rastreamento de indicativos do transtorno durante a gestação ou ainda no primeiro mês após o parto. “Isso permitiria o encaminhamento dessas mulheres para o tratamento do transtorno e, adicionalmente, permitiria planejar o acompanhamento delas com mais atenção”, propõem. A capacitação permanente dos profissionais de saúde pública sobre a depressão pós-parto também é considerada uma medida fundamental.
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